segunda-feira, 15 de setembro de 2014

“Computador” grego calculava eclipses e data das Olimpíadas Mecanismo de Anticítera está associado a Siracusa, cidade natal de Arquimedes

Antiga calculadora astronômica utilizada pelos gregos para determinar a posição do Sol, da Terra e 
da Lua, superou por mais de 1.000 anos, qualquer dispositivo conhecido. O instrumento também era usado para calcular datas de eventos mais comuns, como as próximas Olimpíadas. Um projeto desses, só poderia ter sido obra de um cientista brilhante: Arquimedes.

Anticítera o misterioso computador de 2 mil anos

Esses e outros segredos foram desvendados através de fragmentos de bronze do mecanismo de Anticítera, um instrumento semelhante a um relógio, descoberto em 1901 por mergulhadores de procuravam esponjas próximo à ilha grega de Anticítera, entre Cítera e Creta.

Membros do Projeto de Pesquisa do Mecanismo de Anticítera (AMRP) e seus colegas usaram dados de alta resolução de varredura em raios X, para decifrar inscrições de 1,7 milímetros de altura em um mostrador espiral na parte posterior do instrumento. Na espiral de cinco voltas estavam entalhados 235 conjuntos de sinais que indicavam os meses de um calendário de 19 anos – conhecido como calendário metônico.

Esse calendário era usado desde a época dos babilônios para explicar o fato de que 12 meses lunares somam apenas 354 dias – 11 a menos que o ano solar. Engrenagens atrás do mostrador moviam um ponteiro que indicava inscrições específicas no mostrador.
Fragmentos e desenho do Anticitera
Conforme foi publicado pela revista Nature, a equipe conseguiu, pela primeira vez, identificar alguns meses que coincidiam com os meses dos calendários então utilizados nas colônias coríntias a noroeste da Grécia, sugerindo que o mecanismo deve ter se originado naquela região.

O nome de sete dos meses identificados coincidiam com um calendário usado em uma parte da Sicília, provavelmente colonizada por gregos de Siracusa no século 4 a.C. Siracusa é a cidade natal de Arquimedes, o versátil cientista que segundo uma história apócrifa, saiu da banheira gritando “Eureka!” (Descobri!). Essa descoberta de Arquimedes lhe permitiu verificar se a coroa do rei era feita de ouro maciço, mergulhando-a em água e medindo o volume de líquido deslocado.

Acredita-se que o mecanismo de Anticítera, construído entre 150 e 100 a.C., tenha afundado no trajeto entre a ilha grega de Rodes e Roma, na época uma rota comercial importante. Embora Arquimedes tenha morrido em 212 a.C., muito antes portanto, para ter construído esse mecanismo, o filósofo romano Cícero atribuiu a ele um dispositivo similar.

“É possível que esse mecanismo seja uma espécie de sucessor de sua invenção,” sugere o autor do estudo Alexander Jones, historiador de ciências antigas do Instituto para Estudos do Mundo Antigo da New York University.

Qualquer que tenha sido a finalidade do instrumento atribuído a Arquimedes, explica Jones, o uso do calendário coríntio indica que o mecanismo de Anticítera não foi construído para eruditos, ao 
contrário, deve ter sido usado para ensinar astronomia para leigos.

Reforçando essa interpretação, pesquisadores descobriram que as inscrições em um mostrador menor, dentro do metônico, indicavam os locais e os nomes dos jogos pan-helênicos, eventos esportivos extremamente populares dos quais os mais famosos eram as Olimpíadas.

Os jogos aconteciam a cada quatro anos e cada quarto de volta do mostrador indicava os jogos daquele ano. “Embora isso não tivesse interesse científico, tinha forte conotação humana e social,” esclarece Jones.

O mecanismo era bastante adequado para a previsão de eclipses – provável função de um segundo mostrador com quatro espirais na parte de trás do aparelho.


As 223 divisões do mostrador correspondiam aos meses do ciclo de Saros, outro calendário antigo – com um ciclo de 18 anos – que servia para acompanhar eclipses. Pesquisadores já haviam identificado anteriormente que 16 dessas divisões eram marcadas com glifos ou conjuntos de caracteres, que indicavam eclipses solares e lunares. A equipe aumentou esse número para 18.

O padrão de glifos era extremamente preciso: houve coincidência nas datas de 100 eclipses que ocorreram nos quatro últimos séculos a.C., com as datas calculadas pela Nasa. “Pode-se partir de qualquer dessas datas e todos os glifos conhecidos coincidirão com eclipses reais,” observa o autor do estudo Tony Freeth, de Cardiff, País de Gales, ex-matemático e membro do AMRP.
O dispositivo, contudo, não conseguia predizer a hora exata do eclipse. Um mostrador interno dividido em três sessões podia especificar o número de horas a ser acrescentado ao horário do eclipse indicado pelo glifo.

Os autores não conseguiram descobrir um meio de fazer os horários coincidirem com aqueles calculados pela Nasa. Eles suspeitam que o marcador do dispositivo utilizava um método impreciso para calcular os horários.

Essa falha, no entanto, não diminui a originalidade do mecanismo de Anticítera, “que tem por trás dele um verdadeiro gênio” acrescenta Freeth. Particularmente engenhoso, é o mecanismo dotado de um pino e uma fenda que se encontra na frente do instrumento que indicava as posições do Sol, Terra e Lua.
Fonter: http://www.megacurioso.com.br/


Nenhum comentário:

Postar um comentário